quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Conversas norturnas (ou Ensaio sobre a Esquizofrenia)

Eu prefiro guardar comigo, aqui, escondido. Deixa assim, pelo menos tenho certeza de que está protegido. Você já disse antes que acha que seria melhor se eu mostrasse, mas eu também já disse que é bem melhor deixar guardado. Lá fora é perigoso que se perca na mentira, que se suje. É, está certo, corre o risco de ser só mais uma invenção minha - mas, se eu inventei, existe! Pelo menos para mim! Não, sério! Deixa aqui. Eu não quero que se perca. É intenso e é meu e me dá certeza. Só isso me basta. Deixa, deixa aqui, por favor, não tenta me arrancar a única coisa que me sustenta, a única coisa que eu tenho de real. Sem isso eu não sou nada, não vejo pelo que viver, é o que me move. Vou ficar bem mais tranquila se ficar aqui comigo, que aqui não corre o risco de acabar. É, eu sei que você acha que é errado viver só em sonho, mas preciso discordar de você. Se o sonho salva a realidade em que eu vivo, loucura é acabar com ele. Sem meu sonho, não sou eu. Sem esse sonho, não ando, não crio e não vivo. Se hoje te digo isso é exclusivamente porque o protejo aqui comigo e não deixo que ele se perca na realidade. Aliás, o meu sonho é muito mais real que a realidade! Significa muito mais do que qualquer fato. Não, me deixa... Me deixa aqui, sozinha, cuidando dele. Não, não tenta fazer com que eu mostre ao mundo o que afinal ele é. Deixa ele aqui, quieto, seguro, comigo, a salvo desse mundo que o destruiria em segundos. Nos deixe em paz! Não, deixa, não se preocupa comigo. Enquanto eu o tenho, eu estou bem. Não, não, meu choro não é de dor, é só para me lavar, assim eu não o sujo. Me deixa aqui, nós estamos em paz. Com ele eu nunca estou sozinha. Mesmo! Eu estou feliz, com ele, sempre. Nunca vai sair de mim.

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